Veja São Paulo - Arquitetura - 23/10/2002
ARQUITETURA
Beleza restaurada
Sede da pós-graduação da FAU-USP, palacete da Rua Maranhão tem sua biblioteca reformada
Valéria França
Fotos Cristiano Mascaro
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Com cadeiras assinadas pelos arquitetos Júlio Roberto Katinsky e Paulo Mendes da Rocha (foto maior), o agradável espaço de leitura ganhou estantes suspensas, especialmente desenhadas para o ambiente: conforto e valorização dos detalhes, como o chão de madeira trabalhada e a pintura do teto (à direita) |
Os irmãos Armando e Silvio, filhos do conde Antônio Álvares Penteado, compartilhavam um sonho: transformar o casarão onde passaram a infância, na Rua Maranhão, em Higienópolis, na sede da primeira escola de arquitetura do Estado. Em 1946, eles doaram a propriedade para a Universidade de São Paulo, que depois instalou ali a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). A faculdade foi para o campus da USP em 1969 e apenas o curso de pós-graduação ficou na chamada Vila Penteado. Para este ano, a USP também tinha um sonho. Queria finalizar as obras de recuperação do majestoso palacete, que comemora seu centenário. A falta de verbas para alguns serviços essenciais não permitiu que o desejo se concretizasse. Mas a universidade tem o que festejar. A biblioteca, primeira etapa da restauração, será reinaugurada no dia 8 de novembro. Como mostram as fotos do ex-aluno Cristiano Mascaro que ilustram esta reportagem, o resultado é magnífico.
"As obras na biblioteca funcionaram como um laboratório", explica Júlio Roberto Katinsky, ex-diretor da instituição e responsável pela reforma. "Ali aprendemos quais seriam os critérios a seguir no restauro de todo o prédio." As obras contaram com uma verba especial da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no valor de 377.000 reais. "Foram necessários quatro anos de discussão para conseguirmos o dinheiro", diz Eliana de Azevedo Marques, diretora da biblioteca. O ex-aluno José Armênio de Brito Cruz assinou o projeto e cuidou pessoalmente de todos os detalhes. As estantes, por exemplo, são suspensas para deixar à vista o chão de tábuas de ipê e peroba. No topo, trazem luminárias para destacar os desenhos de ramos de café, flores e leques do teto. Antes, todos esses adornos estavam escondidos sob várias camadas de tinta branca. Técnicos do Estúdio Sarasá, que trabalharam no restauro do Teatro São Pedro, descobriram as imagens ao desgastar cuidadosamente as camadas de argamassa com removedores químicos e uma espécie de bisturi.
Fotos Cristiano Mascaro
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Registro do casarão em dois períodos: no início do século, em aquarela de Carlos Ekman, e em 1976, pelo fotógrafo Cristiano Mascaro, ex-aluno da faculdade |
Até agora, a universidade gastou 1,5 milhão de reais na reforma e busca ajuda da iniciativa privada para conseguir outros 2,2 milhões. Os problemas mais graves, como infiltrações e vazamentos, já estão solucionados. O telhado e as calhas foram trocados. O salão principal, alguns corredores e uma sala de aula parecem novos. Na fachada, continuam a ser dados os últimos retoques antes de uma pintura geral. Prevê-se um gasto de 2.000 litros de tinta.
A Vila Penteado foi uma das residências mais imponentes da cidade. Projetada pelo arquiteto sueco Carlos Ekman, a construção art nouveau tem proporções impressionantes. O térreo era dividido em vários salões. Três escadas levam ao 1º andar. Todas desembocam em um corredor de acesso a catorze quartos. No total, são 1.350 metros quadrados, fora o porão. "É a última casa em estilo art nouveau de São Paulo", afirma o professor de história da arquitetura da FAU Benedito Lima de Toledo, que lança no dia 8 o livro Vila Penteado: Registros. "Por isso, restaurá-la é preservar um pouco da história de São Paulo."
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